"Onde funcionam as coisas é onde a sociedade se apropria dos seus processos." Ladislau Dowbor

sábado, 13 de novembro de 2010

AGENDA BAHIA: SEMINÁRIO DEBATE OS DESAFIOS DO ESTADO PARA A PRÓXIMA DÉCADA

Pedrosa, da Abrace; Sergio, editor-chefe do CORREIO, e José Mascarenhas, da Fieb

“O crescimento sustentável deve estar associado a ações pelas quais as sociedades assegurem o futuro das próximas gerações”. A afirmação é do presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fieb), José de Freitas Mascarenhas, feita na abertura do seminário Agenda Bahia - Olhando 10 Anos à Frente, anteontem, no auditório da entidade.

No primeiro encontro, dos quatro previstos, Sustentabilidade foi o tema discutido, gerando um amplo debate entre empresários, executivos e autoridades do estado, visando apontar diretrizes para o desenvolvimento da Bahia na próxima década.

“O desafio está em realizar o máximo de geração de novas riquezas com a ofensa mínima ao meio ambiente. Isso exige um equilíbrio dos responsáveis pelas decisões que só o tempo será capaz de introduzir”, disse Mascarenhas. Mas segundo ele, além de um meio ambiente preservado, é preciso que o cidadão tenha acesso a trabalho que sustente a si e a sua família. Ao pensar a Bahia para os próximos 10 anos, o presidente da Federação das Indústrias destacou que as prioridades deverão ser inovação, educação, qualificação, infraestrutura, interiorização e meio ambiente.

Panorama
Na palestra, José Mascarenhas mostrou um panorama da Bahia atual, maior economia do Nordeste, e responsável por 31,5% do Produto Interno Bruto e 57,3% de todas as exportações da região. No país, detém o sexto maior PIB. Mas, quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), está na 20ª posição. O setor industrial é responsável por 28,2% da economia baiana, mas apenas seis segmentos são responsáveis por 81,1% do Valor da Transformação Industrial (VTI), sendo que a cadeia do refino de petróleo e afins mais a química e petroquímica representam 54,5% do total.

Inovação
O Brasil e a Bahia, para Mascarenhas, ainda investem pouco em inovação. Quando medida a qualidade da educação em ciência e matemática, o Brasil está na 98ª posição. O país também forma poucos engenheiros, segundo ele. Mas há progressos. Segundo o IBGE, a taxa de inovação das empresas brasileiras melhorou, passando de 31,5% para 38,1%, no período 2000-2008. As maiores dificuldades mencionadas pelas empresas para não inovar são atribuídas aos custos elevados, riscos econômicos e à escassez de financiamentos. “As perspectivas são de mudanças na Bahia.

A Fieb reformulou seu Conselho de Inovação e Tecnologia e criou um comitê de inovação para interagir com o ambiente científico baiano, por meio de um fórum de inovação, que vai construir uma política de ciência, tecnologia e inovação para o setor industrial”, informou. Ele lembrou que a Bahia conta com dois centros tecnológicos, o Cetind e o Cimatec, com 70 mestres e 28 doutores. “O Cimatec, inclusive, é hoje considerado o melhor do Senai em todo o Brasil”, lembrou. Outros pontos positivos citados são a construção, pelo governo baiano, do Parque Tecnológico, e a existência do Centro de Desenvolvimento da Ford, em Camaçari.

“Precisamos, no entanto, fazer uma revolução na educação da Bahia”, disse o presidente da Fieb. Para ele, a inovação só vai se desenvolver na medida que for desenvolvida uma política de educação de qualidade que envolva toda a sociedade.

Federalização
José Mascarenhas defendeu a federalização das universidades estaduais baianas, dentro do esforço para melhorar a situação da educação no estado, principalmente no ensino fundamental e médio. Segundo ele, a Bahia é o único estado do Nordeste que despende recursos com a educação superior em quatro universidades.

“A proposta é que essas universidades sejam federalizadas, liberando recursos estaduais para aplicação no ensino fundamental e médio”, disse. Ele destacou que educação de qualidade no nível básico é fundamental para que a população seja preparada para ocupar os postos de trabalho atendendo às exigências da indústria moderna.

Bolsa encargo é maior do que o Bolsa Família
O presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, defendeu o “estouro da bolha tarifária de energia no Brasil” como uma das principais soluções para o país continuar se desenvolvendo de forma sustentável.

“Os motivos dos encargos são nobres, mas a soma de tantos impostos e taxas é prejudicial à economia”, afirmou Pedrosa durante sua palestra no seminário Agenda Bahia. “O setor elétrico paga US$ 16 bilhões de encargos por ano, mais do que o valor distribuído pelo Bolsa Família, que é de US$ 12 bilhões”, acrescentou o presidente da Abrace, entidade que congrega 47 associados e 500 unidades de consumo.

Paulo Pedrosa ressaltou que o Brasil ocupa uma situação privilegiada no cenário mundial em relação ao crescimento industrial, mas o governo precisa fazer a sua parte. Enquanto as grandes economias da Europa são dependentes do gás fornecido pela Rússia e os Estados Unidos necessitam do petróleo dos países do Oriente Médio, o Brasil tem tradição na geração de energia elétrica, indústria integrada e mão de obra. “Precisamos apenas de menos impostos para aumentar a competitividade no setor industrial”, disse.

Pedrosa afirmou que, nos últimos anos, o custo da energia elétrica no Brasil foi reajustado 100% acima do IGPM e do IPCA, índices que medem a inflação oficial. “Os consumidores não suportam mais o valor das tarifas e os empresários simplesmente estão paralisando investimentos, porque não podem arcar com os custos”.

O presidente da Abrace aproveitou para mandar um recado ao governo federal. “No Brasil, muitos encargos são criados, transformados e, depois, perdem a originalidade”, declarou. As indústrias precisam de competitividade e não de programas que atravancam o seu desenvolvimento”, finalizou.

(Por Luís Francisco, especial para o CORREIO) 

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