"Onde funcionam as coisas é onde a sociedade se apropria dos seus processos." Ladislau Dowbor

domingo, 31 de outubro de 2010

CINCO CONCEITOS SUSTENTÁVEIS NADA CONVENCIONAIS

Todos os dias somos bombardeados de novidades do mundo automobilístico. E quando se trata de conceitos sustentáveis os designers são ainda mais criativos e desenham carros futuristas que, para muitos, extrapolam os limites da realidade. Pensando nisso, selecionamos cinco modelos de eco-carros com a aparência, no mínimo, esquisita.


Helios Concept
Esse conceito foi desenvolvido pelo estudante de design Kim Gu-Han, na Universität Duisburg-Essen, na Alemanha, e foi o vencedor do prêmio Interior Motives Design Awards 2008 na categoria Melhor uso da Tecnologia.
Mas o que chama mesmo a atenção de quem olha esse modelo são as suas placas solares suspensas. Mais parecidas com asas jurássicas, são elas que garantem a carga elétrica necessária para mover o carro.
Inspirado em animais que esticam sua pele para absorver mais calor do sol, o designer projetou o carro para que quando estiver parado, ele possa “abrir” suas quatro placas fotovoltaicas e maximizar a captação solar.


TownCar
Esse conceito, desenhado por Serge Totsky, é um utilitário cinco portas que utiliza a tecnologia híbrida para se locomover. Um sistema de combustível foi colocado na parte dianteira do carro enquanto motores elétricos estão posicionados nas quatro rodas.
Painéis solares presentes no teto garantem uma carga extra de eletricidade e permitem que o carro com visual esquisito atinja uma velocidade de até 200 km/h.


Mercedes-Benz Formula Zero
A montadora de alto luxo uniu a tecnologia limpa com a tradição da marca e a emoção da formula 1 para criar esse conceito que mistura carro de corrida e vela de barco. Utilizando princípios de aerodinâmica e da alta eficiência, o Formula Zero foi criado para obter o máximo dos motores elétrico, dos painéis solares e da vela rígida presente na parte de cima do carro.
O carro foi feito para disputar corridas sustentáveis. Cada equipe será bonificada com a mesma quantidade de energia e vencerá quem souber utilizar a eficiência energética da melhor forma. O projeto é dos designers Alan Barrington, George Yoo e Kevin Verduyn.


Peugeot Shoo
Esse modelo com cara de jet ski foi desenhado com o formato triangular para maximizar o espaço interno. Um teto solar capta a energia do sol e a transforma em eletricidade – que é enviada para os motores do carro.
Outro ponto que chama a atenção é o seu sistema pendular, que permite que a suspensão do carro acompanhe os movimentos das curvas e garanta uma sensação única aos passageiros.



VW VAN
Este projeto de carro, que seu criador, o designer Adam Danko diz ser uma reencarnação do clássico VW Transporter T1, consiste em uma caixa movida a eletricidade com uma infinidade de opções de uso. Com o chassi de metal e as paredes de vidro (transparente por dentro e opaco por fora), o carro foi projetado para abrigar um motor elétrico e painéis solares.
Nos dias de chuva, o carro poderá ser abastecido em uma tomada comum e para maximizar sua eficiência, as baterias irão captar a energia das frenagens e garantir uma energia extra. O designer, no entanto, não informou nada sobre a velocidade máxima e a distância que o carro poderá viajar com uma carga completa.

http://www.ecodesenvolvimento.org.br/noticias/cinco-conceitos-sustentaveis-nada-convencionais

ACORDO NA COP10 ABRE CAMINHO PARA SUCESSO EM CANCÚN, AFIRMA MINISTRA


A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e a presidente do WWF Internacional, Yolanda Kakabadse, em evento paralelo realizado na COP10/Foto: Ligia Barros/WWF-Brasil

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou na sexta-feira, 29 de outubro, que os resultados da 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP10) são “muito positivos” e podem influenciar o sucesso das negociações da ONU na 16ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP16), que será realizada de 29 de novembro a 10 de dezembro, em Cancún, no México.

Em Nagoya, no Japão, onde a COP10 foi realizada, os 193 países signatários da convenção aprovaram um novo plano de metas para conservação de ecossistemas até 2020, além do protocolo para regulamentar o acesso e repartição de benefícios do uso de recursos da biodiversidade (ABS, na sigla em inglês), e da mobilização de recursos financeiros.

“Estamos muito satisfeitos com os resultados. Agora, precisamos trabalhar duro pela implementação das decisões”, destacou a ministra em entrevista após a plenária final da COP10, que avançou pela madrugada, no horário do Japão. Izabella acredita que os resultados de Nagoya mostram que é possível chegar a um acordo internacional satisfatório na COP16.

“Sou pragmática e otimista. Acredito que podemos chegar a bons resultados em Cancún. O que vimos aqui [na COP10] mostra que é possível fechar acordos apesar das diferenças entre os países”, avaliou a ministra. Segundo Izabella, o próximo passo, em relação à COP10, é elaborar versões nacionais para as metas de conservação e detalhar como o Brasil irá se comprometer com a biodiversidade até 2020. De acordo com ela, o combate ao desmatamento no Cerrado será um dos grandes desafios.

Já as novas regras internacionais sobre acesso e uso de recursos da biodiversidade deverão complementar e estimular a implementação da legislação nacional sobre o tema, segundo Izabella Teixeira. Atualmente, a questão é regulada por uma medida provisória.

Opinião semelhante em relação a possível influência que os resultados da COP10 da Biodiversidade possam vir a ter na COP16 das Mudanças Climáticas tem o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti. “Sem dúvida [que os resultados de Nagoya revigoram os ânimos para a COP16]. Tanto que houve comprometimento com a redução do desmatamento", argumentou, em referência a meta que prevê diminuição pela metade do desmate global até 2020 em relação ao nível de 2010, "buscando próximo de zero onde for viável".

Ministro das Relações Exteriores é menos otimista

Já o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, admitiu que não há expectativas de grandes acordos na COP16, cúpula que terá a difícil missão de não repetir o fracasso da reunião de Copenhague, em dezembro de 2009, que terminou sem acordo formal sobre a redução global de emissões de gases de efeito estufa.

“As expectativas para Cancún são modestas. Não esperamos chegar a um grande acordo”, reconheceu Amorim na terça-feira (26), durante reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Segundo o chanceler, um dos principais motivos para o pessimismo é o fato de os Estados Unidos chegarem a mais uma COP sem a aprovação de uma lei nacional de mudanças climáticas. A falta de compromisso norte-americano, segundo ele, serve de “mau exemplo” para os outros países envolvidos na negociação.

Apesar da expectativa “modesta”, Amorim acredita que em Cancún os negociadores internacionais poderão chegar a alguns avanços na regulamentação do mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd) e no financiamento de ações de mitigação e adaptação.

“Podemos ter pequenos avanços, consolidar outros avanços e evitar retrocessos de compromissos assumidos em Kyoto”, resumiu o ministro.

Com informações da Agência Brasil

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COP10 DA BIODIVERSIDADE TERMINA COM ACORDO HISTÓRICO EM NAGOYA


Participantes da cúpula comemoram a aprovação dos temas-chave das discussões/Foto:Ligia Barros/WWF-Brasil

Depois de 11 dias de negociações em Nagoya, no Japão, a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP10) terminou nesta última sexta-feira, 29 de outubro, com a adoção de um Plano Estratégico composto de 20 objetivos para deter o ritmo alarmante de desaparecimento das espécies que vivem tanto na terra quanto no mar.


Os 193 países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) também aprovaram o Protocolo de Acesso e Repartição de Benefícios dos Recursos Genéticos da Biodiversidade (ABS, na sigla em inglês), assim como a mobilização de recursos financeiros.


"Todas as principais decisões foram aprovadas, mas não da forma como cada país signatário queria", relatou ao EcoD, direto de Nagoya, o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti. A ONG ambientalista defendia, por exemplo, o desmatamento zero, mas o Plano Estratégico prevê redução pela metade até 2020 em relação ao nível de 2010, "buscando próximo de zero onde for viável".

Embora não tenha peso de lei internacional, como os demais temas-chave aprovados em Nagoya, o Plano Estratégico foi firmado com metas importantes, a exemplo da inclusão do valor da biodiversidade nas contas públicas, redução de subsídios negativos a biodiversidade, cobertura de 17% nos ambientes terrestres (atualmente 13% têm proteção) e 10% nos marinhos (hoje apenas 1% estão protegidos).

ABS desentrava nas horas finais da convenção

O "Protocolo de Nagoya", como será chamado, determina regras básicas para o acesso e a repartição de benefícios oriundos da utilização desse recursos, com o intuito de coibir a chamada "biopirataria". O acordo estabelece que cada país tem soberania, por meio de uma espécie de direitos autorais, sobre os recursos genéticos de sua biodiversidade e que o acesso a esses recursos só pode ser feito com o consentimento da nação produtora, obedecendo à legislação nacional sobre o assunto.

Caso um produto seja desenvolvido com base nesse acesso, os lucros/benefícios deverão ser obrigatoriamente compartilhados com o país de origem. Um exemplo: se uma empresa estrangeira tiver interesse de pesquisar os efeitos terapêuticos de uma planta brasileira, ela terá de pedir autorização ao Brasil para fazer a pesquisa. Se um produto comercial for desenvolvido com base nesse estudo, os lucros da comercialização deverão ser compartilhados com o Brasil.

Outro ponto importante do ABS é que caso haja um histórico de conhecimento tradicional associado ao uso medicinal da planta, os lucros deverão ser compartilhados também com os detentores desse conhecimento -- por exemplo, alguma tribo indígena ou comunidade ribeirinha.

O protocolo foi aprovado na plenária final com a participação dos 193 países signatários da convenção. "É um sonho que todos os países tinham em mente há muito tempo", comemorou o ministro japonês do Meio Ambiente, Ryu Matsumuto. Cláudio Maretti, do WWF-Brasil, ressaltou que os itens fundamentais para que o ABS possa ser implementado foram definidos. “O mais importante é que os países trabalhem suas legislações nacionais sobre o tema e continuem aprimorando o protocolo em outras reuniões”, observou.

Mobilização de recursos financeiros

As decisões sobre a mobilização de recursos financeiros também estiveram entre as menos unânimes em Nagoya. Muitos países em desenvolvimento, principalmente sul-americanos, africanos e do Sudeste asiático, não ficaram satisfeitos com o compromisso assumido pelos países desenvolvidos em relação às doações que farão para financiar ações de conservação da biodiversidade.

O anúncio pelo governo do Japão da doação de US$ 2 bilhões até 2013 ajudou no alcance do acordo. Além disso, outro ponto positivo foi a definição de que até 2012 os países finalizem um plano de financiamento claro e efetivo para o restante da década.

O texto final aprovado aponta que a mobilização de recursos financeiros para a implementação efetiva do Plano Estratégico 2011-2020 deve aumentar significativamente, mas a meta deve ser definida depois de avaliações adequadas que os países apresentarão sobre suas necessidades financeiras, na próxima COP, em 2012.

“O ideal agora é que os países desenvolvidos facilitem o acesso dos países em desenvolvimento a esse dinheiro já anunciado, ou outros novos, para que estes consigam fazer um levantamento das suas demandas até 2020", considerou Maretti.

Segundo o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, os resultados obtidos em Nagoya mandam um recado positivo para os negociadores da 16ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP16), que será realizada de 29 de novembro a 10 de dezembro, em Cancún (México).

“Sem dúvida [que os resultados de Nagoya revigoram os ânimos para a COP16]. Tanto que houve comprometimento com a redução do desmatamento. É um momento de comemoração, a biodiversidade recebeu a atenção e a dedicação que merece nessa COP, mas este também é um momento de cuidado e de ficarmos atentos para cobrar que os países implementem esses acordos nacional e localmente”, concluiu Maretti.

Com informações do WWF-Brasil
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sábado, 30 de outubro de 2010

CARTA DO SUL DA BAHIA PARA A CANDIDATA DILMA ROUSSEF E O CANDIDATO JOSÉ SERRA

Fonte: Ação Ilhéus

Ambientalistas encaminharam no dia 27 de outubro, uma carta para os dois candidatos a presidente, pedindo um posicionamento referente ao porto sul, considerando que este projeto poderá comprometer séria e irreversivelmente o Bioma Mata Atlântica do Sul da Bahia, afetando áreas protegidas como a Lagoa Encantada, o Parque do Conduru e a Apa de Itacaré Serra Grande, a atividade pesqueira e a paisagem turística da Costa do Cacau.

Leia a carta na íntegra:

Ilhéus, 27 de outubro de 2010

Ilma. Sra. Dilma Roussef, candidata á presidência da república pelo Partido dos Trabalhadores (PT)
A/C José Eduardo Dutra- Presidente do PT

Vimos por meio desta, expor nossa preocupação com a rica e importantíssima biodiversidade do Sul da Bahia, local onde se encontram 80% dos remanescentes da Mata Atlântica no Nordeste, reconhecidos pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e protegidos pela Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/2006), estão sob grave ameaça imposta por um projeto, Complexo Logístico Intermodal Porto Sul – CLIPS, que pretende implantar um complexo portuário na Ponta da Tulha, em Ilhéus, ancorado no interesse privado da empresa de capital internacional, Bahia Mineração (BAMIN), em escoar minério de ferro extraído de jazidas do município de Caetité (BA). O terminal marítimo de exportação de minério será ligado às jazidas pela futura Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que ligará a cidade de Figueirópolis (TO) à Ilhéus (BA).

Dessa maneira, a escolha da Ponta da Tulha para construir o complexo portuário, bem como a escolha do traçado final da FIOL, que desemboca em Ilhéus, destruirão uma área de megadiversidade, compreendida dentro de uma Área de Preservação Ambiental, a APA da Lagoa Encantada e Rio Almada, protegida pela atual legislação ambiental brasileira, em especial a Lei nº 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

O Sul da Bahia foi objeto de narrativas de importantes naturalistas, tais como Charles Darwin, Von Spix e Von Martius, além do príncipe Maximiliano Philipp zu Wied-Neuwied, que estiveram presentes na região e relataram suas experiências, constituindo referências históricas relevantes para o Brasil e o mundo. Esta região é caracterizada por sua extrema riqueza natural, histórica e cultural, abrigando um enorme patrimônio ecológico e socioambiental brasileiro, traduzido por paisagens de valor histórico e espécies animais e vegetais endêmicas e ameaçadas de extinção, que poderão ser exterminadas da face da Terra se não forem preservadas. Inclusive, o próprio Ministério do Meio Ambiente, na publicação “Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização - Portaria MMA nº 09, de 23 de janeiro de 2007”, classifica a região em que se pretende implantar o terminal portuário da BAMIN como de importância biológica extremamente alta.

Esse patrimônio cultural e natural é resultado de relações históricas seculares de comunidades locais e centenas de milhares de produtores e trabalhadores rurais, pescadores, comunidades quilombolas e remanescentes indígenas cuja economia tem sido marginalizada ao longo de décadas. Suas atividades, se bem aproveitadas, poderiam ser a base de uma nova economia regional movida pela produção de cacau e chocolate, frutas, fibras naturais, indústria de base local e de micro e pequena escala, turismo e cultura regional. Cabe destacar que essas mesmas populações poderão ser as maiores vítimas de projetos corporativos como os da BAMIN. Empreendimentos como esse são capazes de destruir um projeto que pode enfrentar o desafio da geração de emprego para a região, baseada numa perspectiva integradora e com fontes de financiamento baseadas em critérios de sustentabilidade. Para isso, o Sul da Bahia, mais que qualquer outra região do país, reúne condições excepcionais para se desenvolver utilizando-se da natureza e garantindo a sustentabilidade dos sistemas naturais, o chamado ecodesenvolvimento.
A área onde se pretende instalar o terminal portuário da BAMIN está inteiramente incluída na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecida pela UNESCO, evidenciando o compromisso do governo brasileiro com a conservação e o desenvolvimento sustentável da área. Vale lembrar que a Mata Atlântica é reconhecidamente um bioma de importância global e sob ameaça de alto grau. Tendo perdido pelo menos 93% de seu habitat original, é considerado um hotspot, contendo mais de 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas (cerca de 0,5% do total mundial), cujos ecossistemas prestam inestimáveis serviços à sociedade, incluindo a manutenção de água de qualidade para as cidades e equilíbrio climático, além de compor uma das paisagens mais belas do mundo. Tal local, às margens do Rio Almada e da Lagoa Encantada, foi tombado pelo município de Ilhéus em 1991 e, em 1993, a mesma região foi alvo da criação da Área de Preservação Ambiental (APA) da Lagoa Encantada, ampliada em 2003 com o objetivo de conservar os valiosos ecossistemas remanescentes da Mata Atlântica na bacia do Rio Almada, sua nascente, os manguezais e áreas úmidas associadas a seu estuário. Dessa maneira, a implantação do Complexo Intermodal Porto Sul afetará áreas de preservação permanente, assim definidas pelo artigo 215 da Constituição do Estado da Bahia, como, por exemplo, recifes de coral, manguezais, dunas e restingas, além de comprometer a riqueza que as áreas indicadas possuem, tais como o abrigo de espécies raras da fauna e flora locais e a beleza cênica que compõe esse ecossistema, com imenso potencial de desenvolvimento de ecoturismo.

É importante destacar, ainda, a importância da biodiversidade marinha do Sul da Bahia, em especial os recifes de coral. O Brasil possui os únicos ambientes recifais de todo o oceano Atlântico Sul e o Sul da Bahia, por sua vez, possui a mais extensa área de recifes coralíneos do país. A fauna de coral formadora dos recifes é constituída por espécies que, em sua maioria, são endêmicas da província brasileira, ou seja, só existem em nosso país. Apenas vinte espécies foram identificadas até o momento, das quais oito estão presentes apenas no litoral baiano.

Recentemente, em abril de 2010, a UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz) fez um relatório para mapear os bancos de corais na área de implantação do porto da BAMIN, com dados obtidos através de mergulhos sistemáticos na região, e constatou a presença de recifes de coral dentro da área considerada como de influência direta do Terminal Portuário da Ponta da Tulha, com a presença de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Segundo esse relatório, caso o Complexo Porto Sul seja implantado, o banco recifal será seriamente impactado durante a construção da ponte projetada para dar acesso ao píer de atracação do porto, podendo impor sérios riscos de sombreamento e soterramento aos recifes de coral. Isso que dizer que toda a riqueza coralínea existente na região sofrerá um brutal impacto, que poderá ser até irreversível, caso os empreendimentos que compõem o Complexo sejam implantados.

Ainda a respeito dos recifes de coral, é importante ressaltar que, por deter alta importância biológica, é conferida à região uma enorme responsabilidade de proteção e uso sustentável desses ambientes, devido à variedade de bens e serviços que prestam, tais como (i) proteção do litoral contra a ação das ondas, (ii) berçários para as espécies marinhas, (iii) uso recreativo e turístico e (iv) fontes de compostos medicinais. Para garantir essa proteção, o Brasil tornou-se signatário da ICRI (International Coral Reef Initiative) - Iniciativa Internacional dos Recifes de Coral, tendo firmado compromissos no âmbito internacional para a proteção e conservação da biodiversidade. Além disso, cabe destacar que o Brasil também é signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) da Organização das Nações Unidas (ONU), assumindo importantes metas de conservação da biodiversidade.

Considerando a vocação turística dessa região, a possível viabilização de um complexo portuário dessa magnitude significaria a sentença de morte de toda a cadeia de turismo e de uma rede de negócios baseada em uma economia de baixo carbono, inovadora e que aproveita as vocações e potencialidades da região, tais como a indústria cacaueira, de pesca e informática. Ao contrário do que a BAMIN tem afirmado em relação à geração de "milhares" de empregos, com a implantação do Terminal Portuário, serão gerados apenas 460 postos de emprego definitivos - com mão-de-obra especializada, ou seja, não contemplando a população local. Outra informação relevante é que a exploração da mina em Caetité se dará pelo período de 15 anos, e aliada à grande massa migratória que estima-se ser deslocada para a região, representarão um sério fator limitante à geração de empregos na região.

É imprescindível ressaltar que, sendo o turismo uma das principais atividades da região, ele tem um papel fundamental no combate à pobreza e é uma ferramenta crucial para o desenvolvimento sustentável. As principais motivações turísticas da Bahia são a NATUREZA e o PATRIMÔNIO HISTÓRICO. Sendo assim, a inviabilização dessas atividades turísticas, baseadas nos atrativos naturais e culturais do local, comprometerá todos os investimentos realizados até o momento pelo Prodetur (Programa de Desenvolvimento do Turismo - Nordeste) na região. Cabe citar que este Programa, financiado por recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para promover a expansão e melhoria da qualidade da atividade turística na Região Nordeste e para melhorar a qualidade de vida das populações residentes nas áreas beneficiadas, pode ter sua credibilidade institucional ameaçada com a implantação do Complexo Porto Sul.

Vale lembrar que ao lado de Caetité já existe uma ferrovia - a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que segue para o Porto de Aratu, na Baía de Todos os Santos, também já existente - que poderia ser revitalizada e utilizada para escoar o minério de ferro e exportar para o referido porto, sendo uma opção extremamente menos impactante dos pontos de vista econômico e socioambiental, afastando a necessidade de se construir uma nova ferrovia que interligue Caetité e Ilhéus e um novo porto na região da Ponta da Tulha.

Ocorre que, para atender basicamente aos interesses estratégicos da BAMIN, o traçado pensado até então para a ferrovia foi trazido mais para o sul, tornando-se significativamente maior e mais caro, firmando-se, ainda, uma situação de obsolescência de um importante sistema logístico.

Diante de todo o exposto, o terminal de uso privativo da BAMIN, bem como o traçado final da FIOL, em sua atual concepção, são incompatíveis com a preservação do bioma e do desenvolvimento sustentável da região.

Pelos motivos acima elencados, pedimos que a sra, sendo eleita à presidência da República, e tendo firmado um compromisso público de apoiar o desenvolvimento sustentável, reconsidere a implantação desse complexo na localização prevista, levando em conta os importantes atributos ambientais, sociais e culturais da região, sua vocação turística, o respeito à legislação brasileira, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável na Bahia e beneficiar a sociedade com uma melhor qualidade de vida, por meio de um modelo de desenvolvimento que gere renda e postos de trabalho mediante o uso sustentável do patrimônio ambiental, notadamente das unidades de conservação, inserindo a Bahia definitivamente em um modelo de desenvolvimento do século XXI, levando em conta as futuras gerações, uma economia mais justa e sustentável e o respeito à natureza e às reais vocações da região.

Assinam a carta:

Suzana M.Pádua, IPÊ – presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas
Leandra Gonçalves, Coordenadora de campanhas GREENPEACE Brasil
Maria do Socorro Mendonça, Presidente Associação Ação Ilhéus
Rui Rocha, Presidente Instituto Floresta Viva
Mário Mantovani, Superintendente SOS Mata Atlântica
Renato Cunha, Coordenador Gambá - Grupo Ambientalista da Bahia
Salvador Ribeiro da Silva Filho, Representante Legal do Movimento Mecenas da Vida
Adelício Barbosa dos Santos, Líder do Assentamento Bom Gosto Ilhéus
Clayton Lino, Vice Presidente RBMA - Rede Brasileira Mata Atlântica
Luis Paulo Pinto, Diretor do Programa Mata Atlântica Conservação Internacional - Brasil
Jorge Luiz dos Santos, Vice Presidente da Associação dos Funcionários da FUNASA
Edson Espírito Santo, Coordenador Movimento Pró Cidadão
Cleidemara Soares Coelho, Presidenta Associação dos Moradores Vila Juerana

COMUNIDADES LANÇAM CARTA ABERTA DENUNCIANDO DEGRADAÇÃO CAUSADA PELO PLANTIO DE EUCALIPTO

Apesar de já ter se passado quase dois meses, e eu ter tomado conhecimento somente agora, considero importante postar esta carta neste momento, por se tratar de um tema tão importante, atual, corriqueiro - o monocultivo do eucalipto -, tão presente no extremo sul da Bahia, dentre outras regiões, e que se alastra cada vez mais e mais.

CARTA ABERTA DA 1ª CAMINHADA ECOLOGICA EM DEFESA DA VIDA
E CONTRA O MONOCULTIVO DO EUCALIPTO
Comunidades impactadas pelos plantios de eucalipto nos municípios de Cordeiros, Piripá e Tremedal - BA

Nós, moradores das comunidades de Tapioconga, Lagoa Preta, Ilha de Dentro e Bela Vista - Município de Tremedal; comunidades de Lavador, Barra da Ilha, Bonito I, Bonito II, Lagoa de Cima, Santana e Pedra Preta - Município de Piripá; comunidades de Pedra Branca, São José e Mocambo - Município de Cordeiros, além de representantes das Paróquias de Tremedal e Piripá; representantes da Igreja Assembléia de Deus; agentes da Comissão pastoral da Terra; nos encontramos no dia 11 de setembro de 2010 para a realização de uma caminhada ecológica  em defesa da vida e contra a expansão dos plantios do eucalipto nas áreas dos gerais na divisa do Estado da Bahia com Minas Gerais.
A nossa caminhada, que partiu da Barragem de Tapioconga em direção ao povoado Lagoa Preta, com uma parada no povoado Ilha de Dentro, foi uma forma de alertar a população e chamar  a atenção das autoridades para a grave situação em que se encontra a região do Gerais,  berço das nascentes que alimentam vários rios que abastecem os municípios de Piripá, Cordeiros e Tremedal.
Esta região já vem sofrendo há anos com os impactos causados pelos plantios de eucalipto os quais já mataram diversas nascentes, causando o secamento do Rio Tapiogonga e levando os rios Lavador, Canabrava e Mocambo a um estágio avançado de degradação. Apesar dos estragos já ocasionados, com áreas totalmente desertificadas, os plantadores de eucalipto, movidos pela ganância, mantém forte investida sobre os moradores para a compra de suas terras e em alguns casos apropriando das áreas de uso comum utilizadas historicamente pelos moradores para criação a solta. Os gerais, ricos em Biodiversidade, vêm sofrendo um acelerado processo de desmatamento, tendo sua vegetação nativa transformada em carvão e sendo substituída por florestas de eucalipto. Novas plantações de eucalipto surgem a cada dia, avançando sobre as áreas das nascentes e que tem deixado as comunidades rurais em estado de alerta.
Nossas nascentes estão morrendo, nossos rios estão secando, a nossa vegetação sendo destruída e nossas comunidades estão sendo encurraladas. Faltam políticas públicas que viabilizem a melhoria da vida da população como estradas, educação, saúde e saneamento. Como se não bastasse, estamos perdendo a nossa terra a nossa riqueza natural, o que compromete nossa perspectiva de vida no lugar em que nascemos, crescemos, tiramos o nosso sustento e onde queremos reproduzir nosso modo de vida para dar seguimento a nossa historia através das futuras gerações.
Diante desta realidade, repudiamos a indiferença dos órgãos governamentais com a situação de destruição dos Gerais, das nascentes e dos rios; repudiamos a ganância dos fazendeiros pela apropriação das terras dos pequenos agricultores e das áreas de uso coletivo; repudiamos a irresponsabilidade dos usuários quando ao uso desordenado da água, inclusive para a irrigação de viveiros de mudas de eucalipto.
SOMOS CONTRA OS PLANTIOS DE EUCALIPTO, POIS EUCALIPTO NÃO É ALIMENTO.
O eucalipto devora nossa Terra, nossa Água e conseqüentemente, devora nossa gente.
Queremos continuar plantando a cana-de-açúcar, a mandioca, o feijão, o milho, cultivando hortaliças e frutas,             criando os nossos animais. Queremos ter respeitado nosso direito de celebrar, manifestar a nossa cultura e a nossa religiosidade, nosso jeito de ser e de viver. Queremos continuar vivendo em nossas comunidades, em nosso território.
Exigimos a intervenção dos órgãos responsáveis no sentido de indenizar a área da Barragem da Tapioconga, fazer o reflorestamento com espécies nativas da região e adotar medidas de garantia da preservação das matas em torno da barragem; exigimos a imediata suspensão do desmatamento dos Gerais e da produção de carvão com a punição legal dos responsáveis; exigimos a imediata suspensão do plantio de eucalipto; exigimos medidas que impeçam a apropriação das terras de uso comum pelos plantadores de eucalipto; exigimos a proibição da utilização da água da barragem da Tapioconga para irrigação de mudas de eucalipto; exigimos a proibição da utilização da água da barragem na lavagem de carros sobre tudo no período de estiagem.
Somos a favor da vida e da biodiversidade. Somos contra o monocultivo de eucalipto!
Lagoa Preta - Tremedal, 11 de setembro de 2010.
Participantes da 1ª Caminhada Ecológica em Defesa da Vida e Contra o Monocultivo do Eucalipto

O DESESPERO DA TERRA
Valvi Santos - Trabalhador rural da Comunidade de Lagoa do Meio – Piripá – BA             


Pedi a Deus inspiração
Tomei caneta e papel
Com toda dedicação
A este povo fiel
Recebi força e coragem
Para escrever esta mensagem
Narrada em verso de cordel

Logo me vem na memória
Os trabalhadores rurais,
Comunidades quilombolas,
Indígenas e outros mais
Que saiam da vida mesquinha
Que as comunidades ribeirinhas
Tenham direitos iguais

Do jeito que a coisa vai
Será um grande martírio
O que será que os pais
Vão contar pra os vossos filhos?
Se não tomarmos decisões
Os grandes espertalhões
Vão tirar o Brasil do trilho

Conheci esses lugares
Com suas árvores frondosas
Seus rios espetaculares
Com suas águas caudalosas
Mas, o tal desmatamento
Veio causar o sofrimento
Tornando a vida dolorosa

Vendo a riqueza explorada
Ilha de Dentro, Ilha de Fora, Lavador,
Santana, Pedra Preta e Queimada
Se vê um rastro de dor
Chorando a perda da propriedade
Envolve uma grande saudade
No peito do agricultor.

Conheci a Fazenda Bonito
Com suas riquezas naturais
Hoje está tão esquisito
Com a extinção dos animais
Com a destruição das pedreiras
E o aumento das carvoeiras
Vão secar os mananciais

Com o aumento das derrubadas
O sol fica mais quente
E as malditas queimadas
Poluindo o meio ambiente
Forma uma estiagem longa
Que faz o Rio Tapioconga
Secar a sua nascente

Ao acordar de madrugada
É de cortar o coração
Não se houve a passarada
Sinfonia do sertão
Com esta cultura de morte
Lamento a triste sorte
Da futura geração

Quem vive mal informado
Comete um ato profano
Dizendo ser Deus o culpado
Vejam que grande engano
Tudo é fruto da ganância
Prepotência e arrogância
Da mente do ser humano

Queremos o limite da propriedade
Embora surja uma guerra
Vamos lutar vem comunidade
Subindo morro, descendo serra
Vamos fazer acontecer
Unidos a CPT
Comissão Pastoral da Terra

Acreditamos nas associações
E nas nossas cooperativas
Como fortes batalhões
Em uma luta reunida
Igrejas católica e evangélica
Com muito jeito e ética
Lutam de cabeça erguida.

Temos uma arma na mão
Que irá nos ajudar
Pois todo bom cidadão
Deve se conscientizar
Seja um guerreiro de fato
Conheça bem o candidato
Para depois você votar.

Onde a mata foi destruída
Faça reflorestamento
Se alguma terra foi ocupada
Que haja assentamento
Apostamos num projeto novo
Fazendo com que este povo
Saia do sofrimento.

O povo já anda aflito
Pelo mísero salário
Com o plantio de eucalipto
Aumenta o grande calvário
Vendendo seu pedaço de chão
Só piora a situação
Quem ganha é o latifundiário

Despeço dessa assembléia
Pensando na classe operária
Que apóiem a minha idéia
E tenha força necessária
Que aprovem o plebiscito
Fazendo que cada político
Defenda a Reforma Agrária.


Fonte: CPT Sudoeste/ EcoDebate

A HISTÓRIA DAS COISAS

O que é A História das Coisas ?

Da extração e produção até a venda, consumo e descarte, todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a maior parte delas longe de nossos olhos.
A História das Coisas é um documentário de 20 minutos, direto, passo a passo, baseado nos subterrâneos de nossos padrões de consumo.
A História das Coisas revela as conexões entre diversos problemas ambientais e sociais, e é um alerta pela urgência em criarmos um mundo mais sustentável e justo.
A História das Coisas nos ensina muita coisa, nos faz rir, e pode mudar para sempre a forma como vemos os produtos que consumimos em nossas vidas.