Apesar de já ter se passado quase dois meses, e eu ter tomado conhecimento somente agora, considero importante postar esta carta neste momento, por se tratar de um tema tão importante, atual, corriqueiro - o monocultivo do eucalipto -, tão presente no extremo sul da Bahia, dentre outras regiões, e que se alastra cada vez mais e mais.
E CONTRA O MONOCULTIVO DO EUCALIPTO
Comunidades impactadas pelos plantios de eucalipto nos municípios de Cordeiros, Piripá e Tremedal - BA
Nós, moradores das comunidades de Tapioconga, Lagoa Preta, Ilha de Dentro e Bela Vista - Município de Tremedal; comunidades de Lavador, Barra da Ilha, Bonito I, Bonito II, Lagoa de Cima, Santana e Pedra Preta - Município de Piripá; comunidades de Pedra Branca, São José e Mocambo - Município de Cordeiros, além de representantes das Paróquias de Tremedal e Piripá; representantes da Igreja Assembléia de Deus; agentes da Comissão pastoral da Terra; nos encontramos no dia 11 de setembro de 2010 para a realização de uma caminhada ecológica em defesa da vida e contra a expansão dos plantios do eucalipto nas áreas dos gerais na divisa do Estado da Bahia com Minas Gerais.
A nossa caminhada, que partiu da Barragem de Tapioconga em direção ao povoado Lagoa Preta, com uma parada no povoado Ilha de Dentro, foi uma forma de alertar a população e chamar a atenção das autoridades para a grave situação em que se encontra a região do Gerais, berço das nascentes que alimentam vários rios que abastecem os municípios de Piripá, Cordeiros e Tremedal.
Esta região já vem sofrendo há anos com os impactos causados pelos plantios de eucalipto os quais já mataram diversas nascentes, causando o secamento do Rio Tapiogonga e levando os rios Lavador, Canabrava e Mocambo a um estágio avançado de degradação. Apesar dos estragos já ocasionados, com áreas totalmente desertificadas, os plantadores de eucalipto, movidos pela ganância, mantém forte investida sobre os moradores para a compra de suas terras e em alguns casos apropriando das áreas de uso comum utilizadas historicamente pelos moradores para criação a solta. Os gerais, ricos em Biodiversidade, vêm sofrendo um acelerado processo de desmatamento, tendo sua vegetação nativa transformada em carvão e sendo substituída por florestas de eucalipto. Novas plantações de eucalipto surgem a cada dia, avançando sobre as áreas das nascentes e que tem deixado as comunidades rurais em estado de alerta.
Nossas nascentes estão morrendo, nossos rios estão secando, a nossa vegetação sendo destruída e nossas comunidades estão sendo encurraladas. Faltam políticas públicas que viabilizem a melhoria da vida da população como estradas, educação, saúde e saneamento. Como se não bastasse, estamos perdendo a nossa terra a nossa riqueza natural, o que compromete nossa perspectiva de vida no lugar em que nascemos, crescemos, tiramos o nosso sustento e onde queremos reproduzir nosso modo de vida para dar seguimento a nossa historia através das futuras gerações.
Diante desta realidade, repudiamos a indiferença dos órgãos governamentais com a situação de destruição dos Gerais, das nascentes e dos rios; repudiamos a ganância dos fazendeiros pela apropriação das terras dos pequenos agricultores e das áreas de uso coletivo; repudiamos a irresponsabilidade dos usuários quando ao uso desordenado da água, inclusive para a irrigação de viveiros de mudas de eucalipto.
SOMOS CONTRA OS PLANTIOS DE EUCALIPTO, POIS EUCALIPTO NÃO É ALIMENTO.
O eucalipto devora nossa Terra, nossa Água e conseqüentemente, devora nossa gente.
Queremos continuar plantando a cana-de-açúcar, a mandioca, o feijão, o milho, cultivando hortaliças e frutas, criando os nossos animais. Queremos ter respeitado nosso direito de celebrar, manifestar a nossa cultura e a nossa religiosidade, nosso jeito de ser e de viver. Queremos continuar vivendo em nossas comunidades, em nosso território.
Exigimos a intervenção dos órgãos responsáveis no sentido de indenizar a área da Barragem da Tapioconga, fazer o reflorestamento com espécies nativas da região e adotar medidas de garantia da preservação das matas em torno da barragem; exigimos a imediata suspensão do desmatamento dos Gerais e da produção de carvão com a punição legal dos responsáveis; exigimos a imediata suspensão do plantio de eucalipto; exigimos medidas que impeçam a apropriação das terras de uso comum pelos plantadores de eucalipto; exigimos a proibição da utilização da água da barragem da Tapioconga para irrigação de mudas de eucalipto; exigimos a proibição da utilização da água da barragem na lavagem de carros sobre tudo no período de estiagem.
Somos a favor da vida e da biodiversidade. Somos contra o monocultivo de eucalipto!
Lagoa Preta - Tremedal, 11 de setembro de 2010.
Participantes da 1ª Caminhada Ecológica em Defesa da Vida e Contra o Monocultivo do Eucalipto
O DESESPERO DA TERRA
Valvi Santos - Trabalhador rural da Comunidade de Lagoa do Meio – Piripá – BA
Pedi a Deus inspiração
Tomei caneta e papel
Com toda dedicação
A este povo fiel
Recebi força e coragem
Para escrever esta mensagem
Narrada em verso de cordel
Logo me vem na memória
Os trabalhadores rurais,
Comunidades quilombolas,
Indígenas e outros mais
Que saiam da vida mesquinha
Que as comunidades ribeirinhas
Tenham direitos iguais
Do jeito que a coisa vai
Será um grande martírio
O que será que os pais
Vão contar pra os vossos filhos?
Se não tomarmos decisões
Os grandes espertalhões
Vão tirar o Brasil do trilho
Conheci esses lugares
Com suas árvores frondosas
Seus rios espetaculares
Com suas águas caudalosas
Mas, o tal desmatamento
Veio causar o sofrimento
Tornando a vida dolorosa
Vendo a riqueza explorada
Ilha de Dentro, Ilha de Fora, Lavador,
Santana, Pedra Preta e Queimada
Se vê um rastro de dor
Chorando a perda da propriedade
Envolve uma grande saudade
No peito do agricultor.
Conheci a Fazenda Bonito
Com suas riquezas naturais
Hoje está tão esquisito
Com a extinção dos animais
Com a destruição das pedreiras
E o aumento das carvoeiras
Vão secar os mananciais
Com o aumento das derrubadas
O sol fica mais quente
E as malditas queimadas
Poluindo o meio ambiente
Forma uma estiagem longa
Que faz o Rio Tapioconga
Secar a sua nascente
Ao acordar de madrugada
É de cortar o coração
Não se houve a passarada
Sinfonia do sertão
Com esta cultura de morte
Lamento a triste sorte
Da futura geração
Quem vive mal informado
Comete um ato profano
Dizendo ser Deus o culpado
Vejam que grande engano
Tudo é fruto da ganância
Prepotência e arrogância
Da mente do ser humano
Queremos o limite da propriedade
Embora surja uma guerra
Vamos lutar vem comunidade
Subindo morro, descendo serra
Vamos fazer acontecer
Unidos a CPT
Comissão Pastoral da Terra
Acreditamos nas associações
E nas nossas cooperativas
Como fortes batalhões
Em uma luta reunida
Igrejas católica e evangélica
Com muito jeito e ética
Lutam de cabeça erguida.
Temos uma arma na mão
Que irá nos ajudar
Pois todo bom cidadão
Deve se conscientizar
Seja um guerreiro de fato
Conheça bem o candidato
Para depois você votar.
Onde a mata foi destruída
Faça reflorestamento
Se alguma terra foi ocupada
Que haja assentamento
Apostamos num projeto novo
Fazendo com que este povo
Saia do sofrimento.
O povo já anda aflito
Pelo mísero salário
Com o plantio de eucalipto
Aumenta o grande calvário
Vendendo seu pedaço de chão
Só piora a situação
Quem ganha é o latifundiário
Despeço dessa assembléia
Pensando na classe operária
Que apóiem a minha idéia
E tenha força necessária
Que aprovem o plebiscito
Fazendo que cada político
Defenda a Reforma Agrária.
Fonte: CPT Sudoeste/ EcoDebate
Fonte: CPT Sudoeste/ EcoDebate
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